Vigilância natural como aspecto relevante na segurança urbana

Não existe solução mágica para o problema da violência e criminalidade nas cidades brasileiras. No entanto, existem conceitos importantes relacionados à arquitetura ambiental e do designer contra o crime que podem ajudar a pensar maneiras de reduzir o crime e a violência nas cidades. Neste campo, há muito espaço para iniciativas criativas e muitas vezes, existem soluções simples. Neste artigo, iremos abordar de que forma à vigilância natural nas ruas pode contribuir para a mitigação de ocorrências.

Pessoas nas ruas

A praga da monotonia mencionada por (Jacobs, 2011), ou seja, ruas abandonadas, falta de atividades para que os pedestres circulem pelas ruas da cidade, contribui para a violência, sendo que a escuridão das ruas é um dos grandes vilões. É preciso criar estrutura para que os locais sejam atrativos para as pessoas, para o comércio, e que permita vida nestes locais. Comércio pulsante e diversificado, moradores e pessoas de outros locais utilizando estes espaços, propicia a chamada vigilância informal, ou seja, todo mundo olhando naturalmente os espaços pela simples presença. Por isso, é muito importante políticas que incentivem a oferta de comércio e serviços nas ruas, tornando-as atrativas para a vida cotidiana.

Vigilância natural

Karpinski (2016) em seu livro Arquitetura Contra o Crime, Prevenção, Segurança e Sustentabilidade, reforça que é preciso criar estrutura que incentive à presença de pessoas no local, ou seja, quanto maior à diversidade de serviços, melhor para estes espaços. Por exemplo, ruas com comércio, casas com jardins bem cuidados e prédios com arquiteturas diversas são atrativos para que as pessoas estejam nas ruas. É importante que os edifícios tenham relação com a rua, para poder existir a chamada vigilância natural. Todo esse conjunto de elementos propicia para que as pessoas mantenham institivamente os “olhos nas ruas”.

Para Jacobs, a manutenção da segurança não é feita apenas pela polícia mas

[…]pela rede intrincada, quase inconsciente, de controles e padrões de comportamento espontâneos presentes em meio ao próprio povo e por ele aplicados. (JACOBS, 2000, p. 32)

Dentro desta proposta, é necessário dar vida ao local não apenas durante o dia, que muitas vezes o movimento é favorecido pelo funcionamento do comércio na região. Mas, e durante à noite? Manter atividades noturnas; atividades regradas, é claro, pode ajudar a evitar a praga da monotonia. Para facilitar o entendimento, podemos trazer o seguinte exemplo: Um bar funcionando 24h, num ambiente agradável onde as pessoas entram e saem para se divertir, mas com regramento para evitar desordem.

É preciso criar infraestrutura que permita a presença massiva de pessoas nas ruas e uns dos aspectos relevantes é a boa iluminação, pois propicia o aumento do número de olhos nas ruas, a vigilância informal e a segurança urbana.

As três condições para a segurança

Jacobs propõe três condições para que haja pessoas suficientemente nas ruas de forma que elas exerçam a vigilância natural sobre os espaços públicos e, com isso, diminuam a violência:

• Deve ser nítida a separação entre o espaço público e o espaço privado;
• Devem existir os olhos da rua;
• A calçada deve ter usuários transitando ininterruptamente.

Condições para a diversidade urbana

Mas como gerar esse ambiente que contribui para dar vida às ruas? Jacobs (2011, p.165) tratou como “diversidade exuberante”, citando quatro condições importantes. São elas:

1. Ruas e calçadas repletas de pessoas. Pessoas que saiam de casa em horários diferentes e estejam nos lugares por motivos diferentes, mas sejam capazes de usar boa parte da infraestrutura.
2. A maioria das quadras/ruas devem ser curtas e bem iluminadas;
3. O distrito deve ser uma combinação de edifícios com idades e estados de conservação variados, e incluir boa porcentagem de prédios antigos, de modo a gerar rendimento econômico variado. Essa mistura deve ser bem compacta;
4. Deve haver diversidade suficientemente alta de pessoas, sejam quais forem seus propósitos.

Para poder existir a vigilância natural, é muito importante que os edifícios tenham relação com a rua ou seja, os edifícios precisam oferecer a possibilidade de contato visual entre o interior e a rua, para que os olhos possam atuar como segurança preventiva.

O estudo é bem amplo e requer muito mais aprofundamento sobre o tema, portanto, não deixe de inserir comentários no espaço abaixo.

Na próxima seção iremos falar mais sobre o tema. Até mais!