Combate à intrusão, furto de cabos e terrorismo no sistema ferroviário

Combate à intrusão, furto de cabos e terrorismo no sistema ferroviário

13/04/2022 0 Por Adenilson Campos Guedes

Uso da tecnologia de segurança na mitigação de riscos

A infraestrutura ferroviária é um componente fundamental da economia e do sistema de transporte do Brasil, constituindo assim uma força vital também do ponto de vista econômico. De acordo com a Agência Nacional do Transporte Ferroviário (ANTF), o setor já chegou a empregar aproximadamente 41.632 trabalhadores. Outro fator importante é que, a malha ferroviária reduz custos na cadeia produtiva, possui grande capacidade de transporte e assim proporciona melhor custo-benefício, com preços mais acessíveis, quando comparado com transporte de caminhões e carretas. Quando observadas às perspectivas além do Brasil, segundo dados trazidos pela Agência Internacional de Energia (AIE), há expectativa ainda que o tráfego combinado de passageiros e mercadorias  duplique globalmente até 2050, de modo que a importância de proteger a infraestrutura ferroviária só crescerá de acordo com seu uso.

No que tange à proteção da infraestrutura ferroviária, há vários desafios. Os ativos ferroviários são ambientes exclusivamente complexos com inúmeras variáveis ​​espalhadas por uma vasta área geográfica. Os operadores ferroviários enfrentam rotineiramente uma ampla gama de perigos. Embora haja uma série de incidentes naturais que devem ser conhecidos, infelizmente, também existem muitos riscos intencionais que devem ser abordados, para que não ocorra um desastre, por exemplo.

Os incidentes de segurança que afetam as ferrovias geralmente se enquadram em uma das três categorias: intrusão, furto/roubo ou terrorismo; este último felizmente não possui histórico no Brasil, contudo, é um risco que não pode ser desprezado. Para manter a segurança dos passageiros e da carga, deve haver esforços significativos para manter a segurança física das ferrovias. É fundamental que as organizações ferroviárias tomem medidas para garantir que estejam fazendo da segurança uma prioridade máxima, adotando tecnologias inovadoras que ajudem a mitigar essas ameaças à segurança pública.

A intrusão é um problema sério na indústria metro ferroviária, potencializando riscos de acidentes por atropelamento e outros danos relacionados à furto/corte de fiações (cobre, fibra ótica etc.). Embora nem todos os casos de intrusão levem a acidentes, muitos causam impactos na circulação de trens. Quando as pessoas invadem as ferrovias e vandalizam/furtam ativos, a ferrovia deve ser avaliada para garantir que não haja grandes danos ou manutenção necessária antes de permitir que os trens voltem a funcionar. Isso cria atrasos e custos para reparar qualquer dano.

No que diz respeito ao furto de cabos, em particular, é algo que está atualmente assolando o setor ferroviário (e metroviário) devido à instabilidade econômica associada aos preços mais altos das commodities. Para os operadores ferroviários, o furto de cabos pode levar a atrasos graves e grande consequências. Esse problema não algo que ocorre apenas no Brasil. De acordo dados publicados no site da Global Railway Review, no Reino Unido, o furto de cabos foi responsável por quase 22.000 horas de atrasos de passageiros nos últimos quatro anos, resultando em custos de  mais de US$ 80 milhões. Ao examinar os impactos, o tempo de inatividade/atraso, o custo de substituição do produto e as despesas de mão de obra adicionais, fica claro porque o furto de cabos é um problema tão sério e caro que deve ser tratado com muita seriedade.

Outro desafio, com consequências potencialmente catastrófica, é o terrorismo. Os operadores ferroviários precisam das ferramentas necessárias para combater a interferência na infraestrutura ferroviária e seus ativos. Segundo dados publicados na MTI (Mineta Transportation Institute), no mundo, entre 1970 e o final de 2017, houve  282 tentativas de descarrilar trens deliberadamente  e 817 ataques adicionais à infraestrutura ferroviária, incluindo trilhos, pontes, túneis, sinalização e outros equipamentos. Das 282 tentativas de descarrilamento de trens, 118 (ou 42%) resultaram em descarrilamento.

Está claro que as ferrovias têm um amplo espectro de necessidades e desafios, e a prevenção de intrusão, furto e terrorismo nas ferrovias deve ser um componente fundamental dos esforços de segurança ferroviária. As operadoras precisam de uma gama integrada de tecnologias de segurança e vigilância para detectar, avaliar e responder a ameaças com mais rapidez e colaborar com organizações externas conforme necessário.

Tecnologias emergentes, como sistemas de vigilância 3D, podem ser unidas a softwares de segurança, expedição e colaboração para abordar todo o ciclo de vida de um incidente. A combinação de sensores fixos e móveis em trens, trilhos e outras infraestruturas integradas com inteligência artificial permite os mais altos níveis de monitoramento por meio da detecção automatizada de anomalias e possíveis impactos na segurança.

O túnel Březno, o segundo maior túnel ferroviário tcheco, está  implementando um sistema de segurança  baseado na detecção de objetos em movimento (O LiDAR). Quando detecta movimento, as câmeras apontam diretamente para a origem do alarme e seguem o intruso. Isso permite que os alvos sejam vistos de vários ângulos de forma autônoma, sem a intervenção de um operador.

Quando um incidente de segurança é detectado, os operadores podem aproveitar o software de despacho e colaboração para gerenciar a resposta. Por exemplo, o Sistema de Resposta a Emergências do Túnel Base de São Gotardo, o túnel mais longo do mundo, inclui software de despacho que dá suporte ao pessoal operacional por meio de listas de verificação, planos de situação e instruções para agendar e mobilizar equipes de intervenção.

As redes ferroviárias continuam a se expandir, inclusive no Brasil. Conforme dados publicados no Valor Econômico no dia 22/02/2022, O Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, destacou que, com as autorizações de projetos 100% privados, a participação das ferrovias na matriz de transportes no Brasil vai dobrar nos próximos quinze anos, saltando dos atuais 20% para 40%. Segundo ele, esse movimento do mercado de logística deve reduzir o preço do frete de cargas em 35%. Contudo, mais infraestrutura ferroviária significa que há mais medidas necessárias para lidar com possíveis tentativas de intrusão, furto e outros problemas de segurança empresarial. Os operadores ferroviários devem enfrentar o desafio de fornecer um sistema de transporte eficiente e seguro.

Esse artigo foi produzido com base no texto publicado no site securitymagazine.com em 07 de abril de 2022.

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