Segurança para Eventos – Gestão da Ética

Segurança para Eventos – Gestão da Ética

11/12/2014 0 Por Teanes Silva

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Um mercado ético pode gerar resultados sustentáveis, embora, em eventos, parte dos clientes utiliza os serviços esporadicamente, daí, muitas vezes, esse tema pode ser renegado.

“Eu escuto e esqueço, Eu vejo e lembro, Eu faço e compreendo” (Confúcio)

É no contexto de Confúcio, que inicio as considerações sobre a gestão da ética na segurança em eventos, conceituando essa palavra, partindo de sua origem:

  1. Em grego – ETHOS (Ética) = Caráter
  2. Em latim – MORES (Moral) = Costumes socialmente estabelecidos que orientam a conduta humana.

Para o filósofo Paul Ricoeur – “Ética é vida boa, para e com o outro, em instituições justas”.

Segundo Matos (2010: 2), a questão é que se vivem hoje tempos de distorções do conceito de ética, para que esta se adapte às circunstâncias e aos interesses particulares.

Essa situação acaba sendo insustentável, pois o ser humano, para agir, precisa da segurança dos ditames de sua consciência e é, nesse momento, que se criam, ainda segundo Matos (2010:2), “simulacros de ética e de verdade.”

Não há possibilidade de vida social sem os princípios éticos, pois são eles que garantem o respeito e a confiabilidade, condições necessárias para a vida em comum.

Nessa linha, a sociedade, para Matos (2010:2), funda-se em 3 pilares éticos:

  1. É essencial que ela seja JUSTA;
  2. É necessário que ela seja LIVRE;
  3. É vital que ela seja SOLIDÁRIA.

Os resultados de ações que envolverão liderança, estratégia e cultura corporativas, serão fruto desses conceitos aplicados nas empresas em geral.

Algumas empresas, como resposta, criam códigos de ética e conduta, quando se veem acuadas por escândalos noticiados pela mídia. Outras fizeram, mas nunca implantaram.

Contudo, de nada adiantam códigos e mais códigos, se não houver educação pautada na consciência, inteligência e atitude, para uma cultura da Ética, fruto de estratégias eficientes e diretrizes para orientar o comportamento e as ações das pessoas.

O que se vê na prática, é o mau exemplo da própria organização, com posturas do tipo:

1)    Corrupção sempre existiu, faz parte do processo e dos riscos;
2)    Se nós não fizermos, outros farão;
3)    Para concorrer é necessário acompanhar o mercado;
4)    Na concorrência global, não se pode ter escrúpulos;
5)    Não temos exemplos dos governantes;
6)    A carga tributária do país é grande, vender sem nota melhora nosso lucro;
7)    Registrar funcionários enriquece o governo;
8)    Vamos montar as propostas combinadas, do contrário todos perdem;
9)    Para que pagar mais, se os vigilantes aceitam o pouco?
10)    E assim por diante.

CASES:

Uma determinada empresa vendeu o serviço de vigilância patrimonial, para um evento, por 250 reais para 12 horas de trabalho/homem. Contrata o vigilante e paga 90 reais, alegando que se pagar mais não terá lucro.

Devido à grande quantidade de homens, resolve fazer uma parceria (quarteirização). As vezes esta parceria tem consentimento do cliente e em outros casos não. A parceira repassa aos vigilantes 70 reais. Dessa forma, temos profissionais realizando as mesmas atividades, no mesmo evento e recebendo valores diferentes.

Nos eventos da copa do mundo, no Brasil, a paga recebida pelos “stewards”, realizando as mesmas funções, chegou a um valor de até 45% menos em algumas arenas e até 65% nas Fan Fest.

 

Em uma festa ”rave”, no interior de São Paulo, evento com duração de 3 dias, também houve uma parceria entre empresas, sendo que a vencedora do contrato, pagou 50% menos que a sub contratada.

 

Existe ainda a prática de locação de alvarás e/ou a falsificação, empresas clandestinas, seguranças clandestinos, dentre outras condições irregulares, onde o tomador é inserido em muitos e sérios riscos, e por efeito dominó, todos os clientes da cadeia de eventos.

Para fins de melhor compreensão, todos os valores correspondem a no mínimo, 12 horas de trabalho.

Digo no mínimo, em função da classificação feita pelas empresas de segurança em eventos, qual seja: se o evento for das 19h às 7h, será necessário que o vigilante chegue por volta das 17h, para credenciamento, e quando o término do evento atrasa, utiliza-se aquela máxima: se terminasse mais cedo, você iria ficar?

 

E o tomador de serviços, fiscaliza?

Ainda temos, quando a empresa se propõe a pagar no término, mais duras horas de fila, portanto, as atividades podem somar 16h. Agora, adicione a isso, o tempo de transporte de ida e volta. O resultado pode ser de pelo menos, 18 horas à disposição, para uma paga em média de 80 reais.

Se compararmos com o valor pago da FT – Folga Trabalhada – na linguagem do segmento de segurança patrimonial, que varia de 130 a 190 reais, por 12h, com os riscos, em tese conhecidos, em São Paulo, a sensação é que existe um submundo dessa mão de obra.

 

Vale a pena para os vigilantes?

Diante desse questionamento, fiz algumas pesquisas com profissionais em eventos, obtendo as seguintes respostas para o mesmo questionamento:
Vigilante, o que justifica você trabalhar, pelos menos 12 horas, por um valor inferior a uma FT?

1)    Chefe, sei que está errado, mas veja, preciso desse valor para pagar amanhã uma conta de luz, vencida há dois meses, para evitar o corte;
2)    Olha, lá em casa a coisa tá feia. A mulher tá pegando feio no meu pé. Então, é melhor trabalhar. É pouco, mas considerando o sossego, tá bom;
3)    Adoro a Ivete Sangalo. Curto e ainda ganho um dinheiro;
4)    Você viu as garotas daqui? São lindas não é? Onde mais receberia uma grana e de quebra ver as gostosonas?
5)    Estou de férias, qualquer verba tá valendo;
6)    Fui afastado pelo INSS. Aqui é um biquinho;
7)    A terceira parcela do seguro desemprego cai a semana que vem;
8)    Cansei da segurança patrimonial. Quero novos desafios;
9)    Pagam pouco, é verdade, mas, vendo uns produtos aqui e complementa a minha diária;
10)    No último evento que eu fiz, achei duas carteiras com dólar, 3 celulares e hoje vou vender;
11)    Outros.

 

Também foram pesquisados os tomadores de serviços. A seguir algumas das respostas:

a)    Terceirizei.
b)    Problema do contratado.
c)    Não tenho tempo e nem pessoal para fiscalizar.
d)    Não me envolvo com a lucratividade dos prestadores de serviços.
e)    Para que nota, se sai mais caro?
f)    Faço isso 6 vezes ao ano.
g)    A verba é curta.
h)    Preciso aumentar a lucratividade.
i)    Essa área é boa, não há fiscalização.
j)    Não registro nem os meus funcionários.
k)    Na próxima compro de outra empresa.
l)    No próximo evento, peço outros vigilantes.
m)    Fechei 5 empresas de eventos nos últimos 10 anos.
n)    Outros

 

  • Diante de tantas distorções, qual o caminho a seguir pelos funcionários?
  • Como corrigir em sociedade essas calamidades corporativas?
  • Quem paga essa conta?

 

A resposta é simples e objetiva:

Para agir com eficácia e corrigir as distorções dentro das Organizações, é preciso um Modelo de Ação, um Modelo de Gestão do Comportamento Ético, que considere a cultura corporativa, que seja abordado em nível estratégico e que sugira ações táticas e operacionais relevantes”, conforme MATOS (2010:5), enfim, algo que leve à prática da Ética.

Acrescento que é preciso coragem e postura, saber que a sua ação será determinante na construção da ética para a sociedade, tornando o negócio de segurança em eventos rentável e principalmente sustentável, haja vista, a decadência de algumas empresas do setor.

Para se aprofundar mais sobre o assunto, recomendamos o livro:

Segurança em EventosSEGURANÇA DE EVENTOS
Autor: PIPOLO, IGOR DE MESQUITA
Idioma: PORTUGUÊS
Editora: PIPOLO
Assunto: Administração – Organização de Eventos
Edição: 1
Ano: 2010

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