Grupos terroristas fazem uso de criptomoedas para manterem suas atividades

Grupos terroristas fazem uso de criptomoedas para manterem suas atividades

23/03/2020 0 Por Bernardo Guerra Lobão

Grupos militantes jihadistas palestinos usaram as mídias sociais e sua influência no mundo virtual para apelar a seus doadores por novos meios de doações. Algumas facções como Hamas, dissidentes do Fatah, algumas Salafi-Jihadi e outros grupos realizaram campanhas solicitando doação de criptomoedas, contornando as leis e sanções internacionais impostas por outros países à Palestina, contra o financiamento do terrorismo.

A Ala paramilitar do Hamas, a Brigada de Al Qassam inciou no início de 2019 uma campanha com a Criptomoeda Bitcoin para solicitar doações para financiar a jihad contra Israel. O grupo militante adotou plataformas de media como o Twitter, Telegram, Whatsapp e outros fóruns da chamada Deep Web. O uso de criptomoeda é um método descentralizado que não envolve troca em banco ou instituições governamentais na transação, facilitando o direcionamento da moeda para atividades criminosas ou lavagem de dinheiro.

O que mais atrai os grupos jihadistas é o anonimato que oferece ao remetente e ao destinatário em uma transação, contornando as leis e sanções internacionais vigentes. De acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA, foi sancionada a lei devido as atividades de movimentação de dinheiro pelas Brigadas Al Qassam, Força dos Qods do IRGC, através do Hezbollah para o Hamas, para ataques na Faixa de Gaza. A Criptomoeda é mais difícil de ser rastrada.

Em verdade o Bitcion sempre foi ferramenta para uma dinâmica de atividades criminosas e financiamento de terrorismo, além de tráfico de armas e pessoas. A valorização diária do valor da moeda e a dificuldade de rastreamento são atrativos de grupos que agem ilegalmente, capazes de criar cenários híbridos de conflitos, através de uma guerra por outros meios, como atividades criminosas, prostituição, divulgação de pornografia na internet e recrutamento de novos membros militantes ou lobos solitários.

Ainda há como suporte o uso de mercenários virtuais e lavagem de dinheiro, tornando ataques mais efetivos e menos previsíveis, sob a exegese de propaganda de ódio, sentimento de pertencimento e uma luta universal contra os inimigos.

Outras facções militantes como a Tawhid al Jihad também solicitam o Bitcoin para angariar doações por meios de redes sociais. As Brigadas de Resistência Popular, Brigadas Nasser Salah al Din, têm uma ala salafista chamada Tawhid al Johad, com uma campanha de envio de mensagens por meio do Telegram e da página do Facebook a vários anos, e divulgam banners criados com mensagens anexadas sobre como entrar em contato com um representante do grupo para doar dinheiro em troca de benefícios. Grupos militantes menores apelam aos seus apoiadores.

Outra facções menores como o Jaysh al Umma (“Exército da Nação”), um grupo militante salafi-jihadi inspirado na Al Qaeda que se origina da cidade de Khan Yunis, na Faixa de Gaza, tem uma série de conflitos internos, dentre eles com o Hamas, desde que o grupo sunita assumiu o controle da Faixa de Gaza a mais de uma década, tendo suas armas confiscadas. No entanto a doação via criptomoeda tem ajudado o grupo a se reerguer na região, adquirindo armamento e novos recrutas para seus objetivos.

Num dos banners do grupo vêm os dizeres: “Seus irmãos na campanha têm o prazer de receber suas doações através do serviço mais fácil e seguro do nosso tempo”

“É apropriado para a natureza e condições de nossa era atual na maioria dos países do mundo, especialmente à luz desta guerra contra a nação islâmica em geral e seus Mujahideen em particular, pois fornece confidencialidade na transferência de dinheiro de e para qualquer país ao redor do mundo de uma maneira técnica disponível para todos, se Deus quiser. ”

Como um sintoma de sanções ao Irã, a integração do Bitcoin pelos grupos jihadistas e outros grupos paramilitares vem sendo o melhor meio dos grupos arrecadar fundos, já que o seu principal financiador sofre duros embargos internacionais. Os Comitês de Resistência Popular (o movimento político das Brigadas Nasser Salah al Din) declararam em um post no Facebook que seu apelo por doações era devido à falta de recursos e à rejeição do Irã por apoio.

Além disso, as informações fornecidas na seção Tawhid al Jihad acima, foram usadas em um relatório recente do Instituto Internacional de Contra-Terrorismo para rastrear o uso de Bitcoin pelo Hamas e pelas Brigadas Nasser Salah al Din (a ala armada Tawhid al Jihad pertence para) financiar o terrorismo.

Outros grupos militantes na Faixa de Gaza, como as Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, Fursan al Fatah e um grupo salafi-jihadista, Jaysh al Islam, publicam regularmente nos canais de mídia social como entrar em contato com o grupo para doar dinheiro.

Isso é uma indicação de que o uso do Bitcoin está trabalhando para contornar as sanções, mantendo os doadores anônimos e a salvo de possíveis problemas legais. No entanto, há muito pouca evidência para indicar quanto dinheiro está sendo ilegalmente canalizado para grupos militantes palestinos via criptomoeda.

Não apenas o uso de Bitcoin, mas outras criptomoedas são muito utilizadas pelos grupos para financiamento de atividades. Algumas moedas tem seu valor de mercado barato comparado ao bitcoin e tem um rendimento alto, podendo ser convertido facilmente em armamento, serviço e propaganda.

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