Ética e Moral – Diferenças e Semelhanças

Ética e Moral – Diferenças e Semelhanças

02/09/2017 0 Por Adenilson Campos Guedes

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Estabelecer conceitos entre ética e moral pode parecer difícil e, às vezes, confuso para muita gente em relação à sua compreensão e suas diferenças, pois ambas parecem ser a mesma coisa. Mas, basta uma análise mais apurada sobre cada uma para percebermos que, embora possuam semelhanças não são a mesma coisa. Isso explica porque muita gente tem dificuldade em compreendê-las. Desta forma, considerando que a moral e a ética estão intimamente ligadas, como distinguí-las? Identificar como a ética e a moral são expostas em nossas vidas é um aspecto importante para o exercício permanente em busca do bem comum; da vida boa de ser vivida.

Identificar como a ética e a moral são expostas em nossas vidas é um aspecto importante para o exercício permanente em busca do bem comum; da vida boa de ser vivida.

Perceber o quanto é importante moralizar a sociedade, muito mais do que implantar mecanismos para impor o cumprimento de normas ou convenções, é o começo para o desenvolvimento social, da conscientização das melhores atitudes a serem seguidas para o bem da coletividade. Dentro deste enfoque, procuraremos as respostas a partir da reflexão dos seus conceitos. Esperamos assim que o leitor tenha uma noção clara sobre o tema e possa compreender o seu real significado.

O professor Clóvis (2016) nos conta que, costumamos achar que a ética e a moral é um impeditivo de nosso prazer; que impede de ganhar um pouco mais do que queremos. Para o professor, o uso deste conceito com este significado é
completamente equivocado. Neste sentido, a ética nada mais é do que o esforço que fazemos o tempo inteiro para escolher o melhor caminho para nossa vida, justamente quando temos liberdade para isso, porque quando não há liberdade de escolha também não há moral, ou seja, estaremos fora do campo da moral. Essa capacidade de decidir, de fazer escolhas livremente é algo pertinente ao homem; isso tem a ver com a moral, portanto, obrigatoriamente é preciso ser livre para decidir, logo moral é sinônimo de liberdade. Podemos dizer ainda que a moral é o pensamento livre sobre a vida. Neste sentido, a ética é o esforço intelectual que fazemos sempre para escolher o melhor caminho para se viver em sociedade.

“ética é o esforço intelectual que fazemos sempre para escolher o melhor caminho para se viver em sociedade”.

Neste momento já é possível perceber uma sutil diferença entre ética e moral. Enquanto na moral você escolhe para onde quer ir; se faz algo ou não; escolher livremente o que você vai fazer, a ética é um esforço que fazemos para encontrar a melhor forma de conviver; tem uma dimensão coletiva, uma dimensão universal. Já a moral possui uma dimensão pessoal; uma dimensão própria de cada um de nós. Mas nos dois casos a liberdade é condição indispensável. A ética é a reflexão moral do que é melhor para a convivência social; pode até questionar se os ditames
morais de determinado tempo ou região é o melhor para o bem comum e até discordar. A ética faz uma reflexão a cerca dos valores morais que adotamos como certo ou errado, tem a ver com caráter.

Para facilitar o entendimento, utilizaremos o seguinte exemplo:

Imaginem que numa rua calma e pacata de uma cidadezinha do interior, uma cooperativa de trabalhadores rurais resolveram disponibilizar para vendas algumas frutas. Eles instalam uma banca e colocam as frutas segregadas com uma plaquinha expondo o preço de cada uma. Ao lado colocaram uma cesta com uma plaquinha dizendo: “Pague aqui o valor das frutas”. Um detalhe: não há pessoas vendendo ou fiscalizando o local. Então, você vem passando no local com muita fome. Aí escolhe duas frutas, mas logo percebe que está sem dinheiro para pagar. Você olha para
todos os lados e tem a seguinte certeza: se você pegar qualquer uma daquelas frutas, ninguém vai saber. Mas aí você pensa: aquelas pessoas depositaram confiança, permitindo que as pessoas decidam livremente em adquirir o item e
pagar! Não é correto levar as frutas na “mão grande”! Vou retornar e pegar o dinheiro para pagar o item; é o correto para se fazer. Então você paga e leva a fruta. Veja, ninguém te obrigou a pagar. Você deliberou livremente sua escolha. Você agiu moralmente! Agora se tivesse uma câmera e uma plaquinha dizendo “Sorria, você está sendo filmado” e você pagasse aquela fruta por medo de ser descoberto, aí nada teria a ver com moral; seria medo de ser descoberto. Ainda de acordo o Professor Clóvis (2016), “nesse momento você está no coração da moral, porque como não tem ninguém te olhando; como não tem ninguém fiscalizando; como  não tem ninguém fazendo o papel de regulador; como é você apenas quem decide soberanamente o que fazer, você está no coração da moral”.

“Nesse momento você está no coração da moral, porque como não tem ninguém te olhando; como não tem ninguém fiscalizando; como  não tem ninguém fazendo o papel de regulador; como é você apenas quem decide soberanamente o que fazer, você está no coração da moral”.

No exemplo acima, é possível perceber que houve uma escolha pessoal, uma decisão livre para escolher. Uma decisão individual. Destarte, podemos dizer ainda que a moral é individual. Já a ética é pensar junto, de maneira coletiva, os princípios que queremos respeitar. A partir do exemplo acima, ainda podemos constatar que, para decidir sobre pagar ou não pagar, foi realizada uma reflexão sobre os valores morais, ou seja, sua decisão foi tomada com base na ética. Aliás, a ética permite até questionar se aquele valor moral é a melhor opção ou não, ou seja, a ética tem
caráter universal, mas a moral pode ser mutável de acordo com o tempo, a região, a cultura. Ainda não ficou claro? Então vamos usar outro exemplo: No Brasil, ter um único companheiro(a) num casamento é um valor moral pré-estabelecido pela nossa sociedade e que pode mudar em outras sociedades. Há países em que a poligamia é algo perfeitamente normal.

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“Só se moralisa quando dar ao outro a oportunidade para soberanamente escolher”

Vamos analisar ainda o seguinte: quando você anda na Avenida Paralela, em Salvador, se depara com diversos equipamentos chamados radar. O argumento utilizado pelas autoridades públicas é que o radar moraliza o trânsito. Dentro da análise filosófica, isso não é verdade. O radar até pode favorecer de alguma forma algumas melhorias no trânsito, mas moralizar não, sabe por que? De acordo com o professor Clóvis (2016), “só se moralisa quando dar ao outro a oportunidade para soberanamente escolher, decidir e deliberar a velocidade que vai imprimir ao seu veículo. Neste sentido, completa o professor: “o papel civilizador da sociedade; o papel moralizador da sociedade é ensinar para os seus filhos por que é preciso manerar na velocidade, para que possam eles moralmente, decidir por andar em
velocidades compatíveis”. Dentro desta ótica, podemos dizer que “o radar, por outro lado, desmoraliza o trânsito, porque tira o trânsito do campo da moral, da soberania, da livre escolha e coloca sob a égide da coação, da repressão e da autoridade”, completa o professor Clóvis.

“Quer conhecer o homem, dê-lhe o poder”

Toda essa reflexão vem da base filosófica de Platão. Platão nos propõe uma estória fantástica para explicar isso. Ela está em um diálogo intitulado a República. Segundo Platão, moral é aquilo que você não faria de jeito nenhum, mesmo se estivesse invisível. Platão disse ainda: “Quer conhecer o homem, dê-lhe o poder”. Assim, Martins (2014) destaca que “o ser humano só é completamente moral quando, tendo o poder e estando livre da punição, ele age com base na moral, na virtude e na justiça”. E Aristóteles alerta que “o homem guiado pela ética é o melhor dos animais. Quando sem ela, é o pior”. Moral é o que você faria ou não faria de jeito nenhum, mesmo se ninguém soubesse, se não tivesse ninguém vendo. Platão, em sua obra, A República, narra a lenda do pastor Giges, que encontra um anel que lhe dar poderes da invisibilidade; uma vez invisível, comete as piores atrocidades. “Certamente, os corruptos imaginam ter achado o anel de Giges e acreditam que não serão pegos nem atingidos pela punição” (Martins, 2014).

“O homem guiado pela ética é o melhor dos animais. Quando sem ela, é o pior”.

A partir da análise acima, é possível perceber que a ética é o princípio, a reflexão sobre os nossos valores morais, para decidir qual o melhor caminho a ser seguido. Já a moral é a prática, é o que se consolidou como sendo verdadeiro do ponto de vista da ação, é relativo aos costumes, aquilo que convencionamos. São as normas de conduta que seguimos, os comportamentos que adotamos mesmo quando ninguém está olhando. Conforme Martins (2014), no sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante, pois são “ambas responsáveis
por construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade”.

 

REFERÊNCIAS:

_____. FILHO, Clóvis de Barros 2016: Moral e Ética – Clóvis de Barros Filho, Aula 1. Brasília, 2003. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Q0jzSJpB3OM&t=6119s>. Acesso em: 30/08/2017.
_____.MARTINS, José Pio 2014, A moral e o anel de Giges. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-moral-e-o-anel-de-giges-ef0tp3ztvritghla9o4746lou . Acesso em: 30/08/2017.
Aristóteles. (322 a.C.), Ética a Nicômaco, em: Caeiro, A. C. (2009), São Paulo: Atlas

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