Características e uso operacional de agentes biológicos na guerra

Características e uso operacional de agentes biológicos na guerra

22/05/2020 0 Por Bernardo Guerra Lobão

Com a recente ameaça que o mundo se viu diante do Covid-19, doença causada pelo novo Coronavírus, criou-se a especulação sobre embates diplomáticos referentes a guerra econômica entre oriente e ocidente, terrorismo biológico, e a guerra bacteriológica voltou a ser um dos assuntos comentados na internet entre a sociedade, criando especulações opiniões populares sobre como a doença está sendo tratada.

Com os acontecimentos na Itália que foi um grande impacto, criou-se alianças políticas e militares para auxiliar no combate ao crescente número de mortes, redefinindo as relações internacionais em suas alianças e diplomacia, além do embate político e disseminação de fake news.

O que de fato ocorre na sociedade é que com o Covid-19, retorna do medo da guerra bacteriológica entre as nações, conforme visto o uso de armas sujas em guerras anteriores e o medo na população que a falta de informação ou desinformação causa nos leitores. Portanto o conhecimento dos manuais científicos que tratam sobre o assunto deve ser publicado para que haja o entendimento, evitando o pânico e levando conhecimento sobre o assunto.

De acordo com a Federation of American Scientists – FAS – o Manual 8-9 Pt. II, a definição de Agentes Biológicos para a Guerra é definir o potencial dos agentes diretamente contra seres humanos, os problemas que podem ser criados durante ataques em que agentes biológicos são utilizados, e métodos que pessoal de saúde devem tomar para reconhecer, prevenir e gerenciar problemas. As definições usadas são definidas pela Agência Militar de Padronizações da OTAN, nos termos do AAP6:

Definição de Agentes Biológicos

a. Agente Biológico (Biological Agent – BA). A OTAN define como agente biológico o: microrganismo (ou uma toxina derivada deste) que causa doenças em homens, plantas ou animais ou que causa deterioração de material.

b. Defesa Biológica (Biological Defense – BD). Defesa biológica compreende métodos, planos e procedimentos envolvendo em estabelecimentos e executando medidas defensivas contra ataques biológicos. (Procedimentos, equipamento e treinamento devem ser abrangidos nessa definição).

c. Guerra Biológica (Biological Warfare – BW). Guerra biológica é o emprego de agentes biológicos para causar danos em homens ou animais e destruir plantas ou material. A definição da OTAN continua, para incluir, “ou defesa contra este tipo de emprego”.

d. Arma Biológica (Biologica Weapon). Uma arma biológica é o item de material que projeta, dispersa, ou dissemina um agente biológico; incluindo um veículo artrópode.

e. Toxina. Uma substância venenosa produzida ou derivada de plantas vivas, animais ou microrganismos; algumas toxinas podem ser produzidas ou alteradas por meios químicos. Comparada com microrganismos, toxinas tem relativamente composição bioquímica simples e não são capazes de se reproduzirem. Em muitos aspectos, são comparadas com agentes químicos.

Perspectiva Histórica

Em sua perspectiva histórica, doenças infecciosas são contraídas naturalmente tem tido um significante impacto em operações militares. A disseminação intencional de doenças cria novas dimensões para ameaças que são causadas por agentes infecciosos e tóxicos, tradicionalmente transmitidos apenas por rotas naturais. Agentes biológicos tem sido empregados por constantemente em conflitos recentes – exemplo: dispersão de praga bacilli durante a Segunda Guerra Mundial e o uso de micotoxinas tricotecenos – Chuvas Amarelas – no Sudoeste da Ásia. Porém, o uso de toxinas e agentes bacteriológicos nas guerras datam desde a antiguidade.

Pandemia - Desafio da medicina diante da Covid-19

Pandemia – Desafio da medicina diante da Covid-19

 

 

 

 

 

 

 

PS. Os tricotecenos formam um grande grupo de micotoxinas conhecidos atualmente, consistindo em mais de 150 compostos quimicamente relatados como tóxicos. A Toxina T2 causa uma doença fatal nos humanos conhecida como Aleucia Tóxica Alimentar (ATA), uma doença que foi comum na Rússia nos anos 1940. Seus sintomas incluem dor na pele, vômitos, diarreia, degeneração completa da medula óssea e constantemente a morte.

O Escopo do uso de armas biológicos são únicos na habilidade de infligir um número em larga escala de casos em uma grande área com um mínimo de requisitos logísticos e ataques, por meios que podem ser virtualmente não rastreáveis. Com facilidade e baixo custo de produção do agente, junto com a dificuldade de detectar a presença, iniciar políticas de proteção e tratamento da vítimas e potencial de atingir seletivamente alvos humanos, animais ou plantas, conspiram para tornar a defesa contra este tipo de arma particularmente difícil.As nações da OTAN permanecem altamente vulneráveis quanto ao uso estratégico, tático e terrorista deste tipo de ataque, à medida em que crescem as brechas militares e econômicas entre as nações e algumas nações são menos favorecidas, buscando o equilíbrio de poder, essas nações podem buscar equilibrar suas desvantagens buscando por armas de destruição em massa, produzidas de maneira fácil e baixo custo.

Características de agentes biológicos

a. Características – Características intrínsecas dos agentes biológicos que influenciam seu potencial como armamentos incluem: infectividade; virulência, patogenicidade; período de incubação; transmissibilidade; letalidade e; estabilidade. A capacidade de se multiplicar no corpo ao longo do tempo é exclusivo para muitos desses agentes e distinto de seus equivalentes químicos.

b. Infectividade – A infectividade de um agente reflete a facilidade em que estes microrganismos estabelecem a si mesmos em seus hospedeiros. Patógenos com alto grau de infectividade causam doenças com relativamente poucos organismos, enquanto os que possuem pouca infectividade requeiram um grade número. Alta infectividade não necessariamente significa que os sintomas e sinais de doença apareçam rapidamente, nem que a enfermidade seja mais severa.

c. Virulência – A virulência de um agente reflete a severidade relativa da doença, produzida pelo determinado agente. Diferentes microrganismos e diferentes deformidades do mesmo microrganismo podem causar diferenças de diferentes níveis de severidade.

d. Toxidade – A toxidade de um agente reflete a relativa severidade e moléstia ou incapacitação produzida pela toxina.

e. Patogenicidade – Reflete a capacidade de um agente infeccioso em causar doença em hospedeiro suscetível.

f. Período de incubação – Um número suficiente de microrganismos ou quantidade de toxinas que podem penetrar em um corpo iniciando uma infecção (a dose infectiva), ou intoxicação (a dose intoxicável). Agentes infecciosos devem se multiplicar (replicação) para produzir a doença. O último momento entre a exposição e a aparição dos sintomas é conhecido como o período de incubação.

g. Transmissibilidade – Alguns agentes biológicos podem ser transmitidos de pessoa para pessoa diretamente. Transmissão indireta (por exemplo, via vetores artrópodes) também pode ser um meio significante de transmissão. No contexto de Arma Biológica casualmente, a facilidade relativa em que um agente é transmitido de pessoa para pessoa (transmissibilidade) constitui a principal preocupação.

h. Letalidade – Esta que reflete a relativa facilidade que um agente causa morte na população suscetível.

i. Estabilidade – A viabilidade a qual um agente é afetado por vários fatores do meio ambiente, incluindo temperatura, umidade relativa do ar, poluição atmosférica, exposição ao calor. A medida quantitativa de estabilidade é a taxa de declínio do agente.

j. Fatores adicionais – São os fatores que podem influenciar a aptidão do microrganismo ou toxina como uma arma biológica inclui: sua facilidade na produção; custo; estabilidade quando é transportada e facilidade de disseminação.

 

Símbolo internacional de risco biológico

Símbolo internacional de risco biológico

Classificação

A tabela I mostra o agente e o potencial biológico de cada agente de acordo com a classificação deste manual:

Potencial dos Agentes Biológicos

Potencial dos Agentes Biológicos

 

a. Médica – Classificações taxonômicas de agentes biológicos são importantes para os serviços médicos nos termos de detecção, identificação, profilaxia, e tratamento. Agentes biológicos que são usados podem ser classificados como a seguir:

(1) Bactéria. Bactérias são pequenos organismos vivos, livres, em sua maior parte crescidos em meios de cultura sólida ou líquida. Os organismos tem estrituras constituídas em material nuclear, citoplasma e membrana celular. Se reproduzem por divisão simples. Doenças causadas por bactérias respondem a terapias específicas com antibióticos.

(2) Vírus. Vírus são organismos que necessitam de parasitar células vivas para se replicar. São intimamente dependentes de células como hospedeiras para causar infecções. Eles produzem doenças que geralmente não respondem a antibióticos, mas que podem ser combatidas com compostos antivirais, que são de uso, em geral, limitado e restrito.

(3) Riquetsiana é um gênero de microrganismos que tem características comuns a bactérias e vírus. São carregadas como parasitas por tipos de carrapatos, pulgas, piolhos e causam doenças como tifo epidêmico. Como as bactérias estes agentes possuem enzimas metabólicas e membranas celulares, utilizam oxigênio e são suscetíveis a um grande número de antibióticos. Sua característica que assemelha ao vírus é que precisam de outras células livres para parasitar.

(4) Clamídia. É obrigatoriamente um parasita intracelular, incapaz de gerar uma fonte própria de energia. Como bactérias, são responsivas a um amplo espectro de antibióticos e, como vírus, necessitam células vivas para multiplicarem-se.

(5). Fungos. São plantas primitivas que não se utilizam de fotossíntese, são capazes de crescimento anaeróbico, e drenam sua nutrição de vegetais em decomposição. A maioria da classe fungi formam esporos e são encontradas no solo. A forma esporo dos fungi são operacionalmente significantes. Doenças por estes agentes podem responder a diversos antimicrobianos.

(6). Toxinas. São substâncias venenosas produzidas e derivadas de plantas vivas, animais, ou microrganismos. Algumas toxinas podem ainda ser produzidas por meios químicos. Toxinas podem ser combatidas por antissoros e alguns agentes farmacológicos selecionados.

b. Operacionalidade

A operacionalidade pode ser considerada pelo uso quanto a classificação de agentes biológicos e os efeitos que produzem em um contexto operacional, com o objetivo de orientar um comando quando ao uso operacional nas consequências da efetividade em uma operação contínua. Categorias operacionais devem incorporar todo reconhecimento variável como o impacto na efetividade, incluindo a letalidade, transmissividade e persistência.

 

Medidas para conter o avanço do agente biológico

Medidas para conter o avanço do agente biológico

 

106. Disseminação

Disseminação é o processo pelo qual doenças infecciosas ou toxinas são dispersadas para causar doença ou intoxicação. Mesmas rotas de entrada pertinentes para os meios naturais de disseminação (por inalação, ingestão ou inoculação percutânea) são relevantes quando seus agentes etiológicos são dispersos intencionalmente por armas. Agentes biológicos são provavelmente dispersados secretamente e por aerosol. Outras rotas de entradas são consideradas menos importantes que inalação, mas não menos potencialmente significativas.

a. Aerosol.

(1) Exposição respiratória (Inalação).

(a) Inalação dos agentes por aerosol, com deposição resultante de infecções ou partículas tóxicas dentro de alvéolos, provém um caminho direto ao sistema de circulação. O processo natural de respiração causa um influxo contínuo de agentes biológicos a indivíduos expostos. O maior risco é retenção pulmonária de partículas inaladas. Dotas de largura com 20 mícrons podem infectar vias respiratórias superiores, entretanto, essas partículas relativamente largas são geralmente filtradas por uma anatomia natural e processos fisiológicos, e apenas as partículas muito pequenas (de alcance de 0.5 a 5 mícrons) alcançam o alvéolo de forma eficiente. Articulas ainda menores inaladas não tem capacidade de retenção em humanos.

(b) Sistemas de borrifamento de aerosol tem intenção de criar nuvens invisíveis de partículas entre 0.5 e 10 mícrons de diâmetro que podem permanecer suspensas no ar por longos períodos. Pequenos pedaços destas partículas não são eficientemente retidas pelo sistema respiratório humano e são relativamente instáveis em um ambiente de condições naturais. Infecções por via respiratória podem induzir doenças em does menores do que as geralmente associadas com infecções naturalmente adquiridas via oral. As enfermidades subsequentes podem diferenciar de padrões naturais, e seus períodos de incubação podem ser muito menores.

(2) Exposição alimentar (Ingestão). Suprimentos de comida e água podem ser contaminados durante um ataque por aerosol composto com arma biológica. O consumo incauto deste tipo de material contaminado pode resultar em diversas enfermidades.

(3) Exposição dérmica (Percutânea). A pele intacta pode prover uma barreira excelente para grande parte, mas não todos, os agentes biológicos. Entretanto, membranas mucosas e peles danificadas – como cicatrizes, cortes, queimaduras, feridas abertas – constituem brechas na ‘barreira normal’ por onde estes agentes biológicos podem entrar facilmente.

b. Contaminação por comida e água. Contaminação direta por consumíveis, como beber água, comidas, remédios, tal quais seus recipientes, podem ser usados como meios de disseminar agentes infecciosos ou toxinas. Esse método de ataque poderia ser adequado por atividades de sabotagem e direcionado a alvos limitados, como caixas d’água, armazéns de comida de uma base militar, ou estoque em uma cozinha. Filtragem e uma cloração adequada pode reduzir significantemente o risco de contaminação por água. Checagem e uma boa estocagem de alimentos, averiguando higiene, validade, e controle de pessoal, pode evitar contaminação de alimentos.

c. Outras considerações:

(1) Podem ser feitas outras formas de espalhar doenças típicas transmitidas por outros vetores, liberando hospedeiros naturais (ou não) como artrópodes infectados, como mosquitos, carrapatos ou pulgas. Estes vetores vivos podem ser produzidos em grandes números e infectados, permitindo-lhes se alimentar de animais infectados, reservatórios de sangue contaminado ou fontes produzidas artificialmente de um agente biológico. A criação de mosquitos geneticamente modificados para combater doenças, pode ser um vetor tanto de combate como de transmissão destas.

(2) Sobrevida a longo prazo de agentes infecciosos, preservação da atividade de toxinas por períodos prolongados e a influência protetora da poeira e partículas as quais os microrganismos absorvem quando espalhados por aerosóis, devem ser documentadas. Existe potencial, portanto, para o atraso na geração de sistemas de disseminação secundários, a partir de superfícies previamente contaminadas. Em menor grau, o indivíduo pode ingerir partículas contaminadas por roupagem, dormitórios, locais públicos como acentos, criando riscos de exposição adicionais, porém menos significativos.

(3) A disseminação de pessoa para pessoa aumenta o potencial de certos agentes biológicos em potencial foi documentada. Seres humanos portadores de agentes inconscientes de estarem contaminados são veículos altamente eficazes de um agente transmissível, podendo se tornar prontamente a fonte de disseminação – por exemplo, pragas, ou antraz.

Fontes:

https://fas.org/nuke/guide/usa/doctrine/dod/fm8-9/2ch1.htm

https://www.apsnet.org/edcenter/disimpactmngmnt/topc/Micotoxinas/Pages/TrichothecenesPort.aspx

 

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